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Pesquisa revela que 17 mil pessoas tiveram sequelas após uso do metacril

By 27 de dezembro de 2016Nenhum comentário

Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica calculou número de pacientes que sofreram deformidades e complicações por causa do produto

SÃO PAULO – Muito utilizado para preenchimento e modelagem facial e corporal, o polimetilmetacrilato (PMMA), também conhecido como metacril ou bioplastia, provocou deformidades e complicações em cerca de 17 mil pacientes de todo o País, segundo pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo (SBPC-SP) e obtida pelo Estado.

Essa é a estimativa do número de pacientes que precisaram recorrer a cirurgiões plásticos a fim de corrigir sequelas deixadas pelo produto no período de um ano, entre maio de 2015 e de 2016, conforme a pesquisa feita pela SBPC-SP com 300 especialistas brasileiros.

O PMMA é um produto sintético composto por microesferas de acrílico aplicado por meio de cânulas, sob anestesia local. Os riscos do uso do produto ganharam atenção no final de 2014, quando a modelo Andressa Urach foi internada em estado grave com uma infecção nos glúteos e coxas causada pelo uso de metacril e hidrogel, outro produto usado para preenchimento corporal.

“Como é formado por microesferas, o PMMA se espalha pelo tecido da região após ser aplicado e, por ser um corpo estranho, costuma causar uma reação que produz nódulos e deformidades. O problema maior é que o quadro é quase insolúvel porque, para extrair o produto, é preciso retirar tecido sadio em volta. É como tentar tirar cola aplicada sobre uma esponja”, diz Luis Henrique Ishida, presidente da SBCP-SP.

Ele relata que, além de ser usado como modelador para glúteos e coxas, o produto tem sido aplicado no rosto para o preenchimento de rugas. “Quando ocorrem complicações, são necessárias pelo menos duas cirurgias para tentar minimizar o problema, mas a região não volta a ser como era. Além disso, há pessoas que podem ter infecções graves ou reações alérgicas que precisarão ser tratadas com corticoides para o resto da vida”, diz o especialista, que pede que a substância seja banida para fins estéticos. “Ela começou a ser usada para corrigir deformidades de pacientes HIV positivos. Mesmo nesses casos os resultados não são os melhores.”

Barato. Médicos dizem que a opção pelo metacril ganhou adeptos pelo custo inferior a outros procedimentos estéticos. Enquanto uma sessão de aplicação de ácido hialurônico custa R$ 2 mil, a de PMMA vale cerca de R$ 900 e nem sempre é feita por médicos. Na internet, é possível encontrar clínicas de estética, consultórios odontológicos e até salões de beleza oferecendo o procedimento.

A psicóloga Dulcinéa Ferraz, de 50 anos, foi uma das vítimas do uso do polimetilmetacrilato. Em 2010, ela procurou uma clínica de São José dos Campos, onde mora, para fazer o preenchimento de uma ruga profunda acima da boca. A médica indicou a bioplastia para a marca de expressão e também para dar volume aos lábios. “Em nenhum momento ela me explicou que havia riscos.”

Dois anos depois, Dulcinéa passou a notar um inchaço e o aparecimento de feridas e nódulos na boca. “Eu parecia um índio botocudo tamanho o inchaço da minha boca. Fiz duas cirurgias, tomei medicamentos, mas dava uma melhorada e depois voltava. Minha autoestima deixou de existir, não queria mais sair de casa.” Em 2015, a psicóloga fez uma plástica para a retirada de parte do produto. “Não saiu tudo, mas estou melhor.”

Anvisa. Questionada sobre a regulamentação do uso do polimetilmetacrilato no País, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, para fins estéticos, tanto a procedência do produto quanto a capacitação do profissional devem ser observados pelos pacientes.

“A orientação do paciente deve ser completa, de modo a permitir sua livre escolha de submeter-se, ou não, ao procedimento. Os estabelecimentos devem possuir condições hígidas e ser devidamente equipados”, informou a agência. O uso do produto em procedimentos reparadores, como para pacientes com lipodistrofia causada pelo tratamento contra o HIV, deve ser feito em unidades de saúde credenciadas.

 

Fonte: saude.estadao.com.br