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Notícias

Segurança do Paciente para Cirurgia Plástica

By 11 de abril de 2017Nenhum comentário

Por André L.M. Maranhão
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Vigilância Sanitária do Estado do Rio de Janeiro
Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CREMERJ

 

Tema 1 – Segurança Estrutural – Centro Cirúrgico

A Cirurgia plástica é uma das poucas especialidades que trata tanto do paciente saudável quanto do paciente enfermo, tendo como objetivo a devolução deste paciente a sua vida cotidiana numa condição melhor do que a inicial. Para tanto o cirurgião deve ter em mente tanto a sua formação técnica quanto administrativa, sendo esta a que falta geralmente, ficando o recém-formado sem direção ao administrar a vida do seu paciente, quanto às questões de internações, particulares ou por convênios (em determinados casos), e a que tipo de estrutura hospitalar oferecer para o caso.

A segurança do paciente envolve aspectos relacionados a esta estrutura e ás potenciais falhas humanas envolvidas em qualquer assistência a saúde, e serão divididas em alguns temas que serão publicados sequencialmente para ilustrar os sócios.

É importante que se tenha em mente que as falhas humanas ocorrem em qualquer sistema e, que sem a análise das mesmas, a tendência é uma ocorrência maior. Com o estudo dos mecanismos de erro, foram criadas várias “barreiras“ para o sistema de saúde, desde as físicas (estrutura hospitalar) quanto administrativas (sistemas de liberação de medicamentos, prescrições eletrônicas, manuais de procedimentos operacionais padrões) que exigem treinamento e educação continuada da equipe.

Este tema, “Segurança do Paciente” já é discutido desde 1999 com a publicação do livro “Errar é Humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, onde descreve a ocorrência de 44.000 à 98.000 mortes/ano nos hospitais dos EUA pelos danos causados durante a prestação de cuidados à Saúde. A partir deste, a Organização Mundial de Saúde (OMS) seguida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceram critérios e determinaram a implantação da cultura de segurança nos sistemas de saúde para desenvolver mecanismos visando melhorar a segurança do paciente.

Considerando a cirurgia plástica, um dos indicadores mais importantes é o da Taxa de Infecção de Sítio Cirúrgico, que ocupa a terceira posição entre todas as infecções em serviços de saúde (não somente a cirurgia plástica), sendo um evento que comprovadamente aumenta os custos da assistência, sendo responsável pelo aumento da morbidade e da mortalidade, com aumento do tempo de hospitalização. Assunto este, que exige uma busca incessante de estratégias que assegurem nossa assistência, desde a escolha de um bom hospital/clínica, que siga todos os critérios de segurança, até os controles de esterilização (biológicos e físicos), com processos de trabalho em locais adequados, tais quais:

 

Isolamento Ambiental

Todo centro/unidade cirúrgica exige um adequado isolamento ambiental, não possuindo falhas, frestas, ou comportamento que possibilite a entrada de vetores e sujidades. Assim sempre se recomenta que o mesmo seja longe da entrada do hospital, assim como do abrigo central de resíduos, e sem janelas abertas (deverão estar lacradas). Possuindo entrada individualizada de profissionais (vestiários), diferente dos pacientes (câmara e antecâmara para pacientes), e se possível, saída independente de lixo e materiais a serem esterilizados.

Estrutura física mínima

  1. 1.       Recepção: identificação dos profissionais , entrega dos kits de cirurgia (pijamas, máscaras, toucas e pró-pé);
  2. 2.       Vestiário de barreira (entra por um lado e sai dentro do centro cirúrgico)com mobiliário de apoio para troca de roupas e banheiro separado por sexo;
  3. 3.       Estar médico com copa – após o vestiário, com os alimentos sem excesso de farelos e migalhas, com limpeza rigorosa, sendo que todos os profissionais que estiverem nesta área ou qualquer área após o vestiário deverão estar paramentados completamente com pijamas cirúrgicos e “kits” de cirurgia;
  4. 4.       Posto de enfermagem e farmácia local deverão estar organizados e identificados;
  5. 5.       Arsenal de materiais cirúrgicos- separado e climatizado;
  6. 6.        Área de Resíduos – se possíivel, saída exclusiva para estes, caso contrário o gerenciamento de resíduos deverá prever o fluxo adequado.
  7. 7.       Entrada de pacientes deverá ser separada, com barreira contra entrada direta e utilização de maca de transposição, se possíivel com uma antecâmera para esta entrada.
  8. 8.       Lavabo para escovação – número de torneiras = número de salas de cirurgia + 1, não necessaáriamente no mesmo local, podendo ser distribuído pelo corredor do centro cirúrgico. Torneiras com acionamento por cotovelo, pedal ou sensores de presença, nunca manual com rosca, e em frente deverá possuir espelho para viszualização completa das mãos durante a escovação e com relógio para controle do tempo de escovação.
  9. 9.       Sala de Cirurgia: ampla para possibilitar o trânsito de materiais, equipamentos e profissionais. Evite o armazenamento de equipamentos fora o indispensável. Sem armários, pois dificultam a limpeza terminal da sala.
    1. Mesa de cirurgia adequada com acessórios e mobilização (Fowler & Trendelemburg);
    2. Carro de anestesia, com monitores multiparamétricos e ventiladores mecânicos e volumétricos com suprimento de gazes medicinais  dimensionado adequadamente (central e reserva;
    3. Aparelhos de eletrocirurgia (bisturi elétrico) e lipoaspiradores devem ter condições de substituição imediata se houver falhas. Lembre-se do aterramento elétrico da sala para evitar queimaduras;
    4. Focos cirúurgicos também devem ser dimensionados adequadamente e também com possibilidade de manutenção imediata (no mínimo um foco duplo, para os casos de sala única de cirurgia sem foco auxiliar);
    5. Acessórios: baldes de lixo “a chute” (com rodas), mesas lateriais de apoio à instrumentação, mesa de mMayo e bancos com e sem rodas;
    6. Porta de sala – deverá ser do tipo “vai e vem” ou com possibilidade de acionamento por cotovelo;
    7. Supervisão de Enfermagem de nível superior.
    8. Profissional de limpeza treinado para o setor, responsável pela limpeza das salas, equipamentos e móveis.
    9. 10.   Sala de Recuperação pós-anestésica (RPA): observação do paciente dentro do centro cirúrgico, com monitores multiparaméticos, condições de assistência ventilatória e atendimento a Parada Cardio Respiratória. Deverá possuir espaço para pelo menos um leito a mais do que o número de salas de cirurgia, com acesso aos leitos por ambos os lados.

O registro de todo o processo de trabalho através de livro de cirurgias, assim como de controles de esterilização documentados a cada início de cirurgia (guarda dos integradores no prontuário), possibilita o rastreio de eventuais surtos que possam ocorrer, favorecendo as ações de contenção do surto e vigilância sanitária.

A contaminação reversa é um problema, já que pode ocorrer por atos inseguros – erros e violações de procedimentos por má prática de profissionais, contaminando mesas, maçanetas e materiais que possam cair ao chão, mesmo fechados. A limpeza das roupas de profissionais e pacientes faz parte deste processo de prevenção de infecções sendo um tema bastante complexo, devendo ter cuidados semelhantes aos empregados na central de esterilização.

Vale lembrar que todo o esforço para garantir a melhor assistência ao nosso paciente é válido e extremamente gratificante.

Até Breve.

André Maranhão

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