Cirurgiões plásticos analisam o mercado de trabalho atual para a Cirurgia Plástica, apontam os desafios e as áreas em ascensão dentro da especialidade

Por Leila Vieira e Madson de Moraes

Como se sobressair em um mercado tão competitivo? O mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos? Quais as áreas em ascensão dentro da cirurgia plástica? Cirurgiões ouvidos pela reportagem debatem o cenário atual da especialidade e inauguram a série de matérias na revista sobre temas relevantes aos associados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) como mercado de trabalho, humanização em medicina, defesa da especialidade, gestão e carreira, pesquisas científicas e Residência Médica, entre outros assuntos que serão destacados nas próximas edições.

Participaram do debate proposto os seguintes associados da SBCP: o professor da Disciplina de Cirurgia Plástica e Queimaduras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Júlio Morais Besteiro; o coordenador do Ambulatório de Cirurgia Plástica Pós-Bariátrica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz – unidade Vergueiro, (SP), Dr. André Cervantes; o cirurgião plástico com MBA em Gestão pela INSPER, Dr. Gustavo Stocchero; e a colaboradora no ambulatório de Cirurgia Plástica Infantil no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dra. Tatiana Moura.

Como você vê o mercado da cirurgia plástica nos dias atuais? E o que mais mudou nesse mercado desde o início da sua carreira? Ou não mudou muito?

Dr. Júlio: “Sem dúvida houve uma grande modificação no mercado nos últimos 40 anos. Por um lado, o desenvolvimento técnico, tanto do cirurgião propriamente dito como da especialidade no que se refere à amplitude de sua atuação acabou por fragmentar significativamente o mercado.

Não creio que um cirurgião hoje possa abranger com alta qualidade todos os ramos da cirurgia plástica. Esses limites estendidos do campo de trabalho, entretanto, foram desigualmente preenchidos pelos profissionais, deixando alguns setores congestionados e outros desatendidos.”

Dr. André: “Devemos pontuar uma situação importante: o mundo mudou, está em mudança e vai mudar após a pandemia de COVID-19. A resposta de semanas atrás seria: nosso mercado é promissor, a beleza faz parte da saúde das pessoas. Acho que isso não vai mudar, mas agora, sem dúvida, durantes os próximos 18 a 24 meses, enquanto estivermos vivendo a questão da pandemia, o mercado da cirurgia plástica terá um desajuste muito grande. Nossa profissão teve um boom muito grande nesses quase 20 anos que eu sou especialista e o que mudou foi a oportunidade, para uma grande parcela da população, que antes era excluída desse grupo, de poder realizar uma cirurgia plástica estética.”

Dr. Gustavo: “Participei de duas transformações no mercado de trabalho. A primeira foi o aumento do número de cirurgiões plásticos por habitante no País, o que demonstra um crescimento do número de especialistas consideravelmente maior do que o crescimento da população. E a segunda foi o aumento dos potenciais consumidores das cirurgias, que atingiram grupos econômicos mais amplos na população. Infelizmente, algo que variou pouco nesse tempo foi o escopo de ação do cirurgião plástico, já que ainda temos muitas áreas da nossa especialidade subaproveitadas. Assim, eu enxergo o mercado atual saturado para os modelos em vigência, mas com grande potencial em áreas pouco exploradas e de grande carência, como as reconstruções pós-tumores, tratamento de feridas complexas, doenças congênitas e traumas agudos.”

Dra. Tatiana: “O mercado para a cirurgia plástica veio mudando nas últimas décadas, de mais elitizado a algo mais popular. Surgiram clínicas de cirurgia plástica de baixo custo operacional, possibilitando que mais pessoas pudessem fazer uma cirurgia estética. Pelo lado social, é sempre saudável que mais pessoas tenham acesso a quaisquer serviços, mas isso levou a uma diminuição importante da remuneração do cirurgião, não apenas daqueles que trabalham nessas clínicas, mas também da maioria pela concorrência de mercado.”

O mercado de trabalho do cirurgião plástico brasileiro é prioritariamente estético em relação à cirurgia reparadora. Por que esse cenário segue atual?

Dr. Júlio: “Essa é uma verdade irrefutável embora, felizmente, já mostra alguma tendência ao equilíbrio. Quero crer que tanto os serviços de formação, como a própria SBCP, têm valorizado, ainda que timidamente no meu modesto entender, o extenso campo da cirurgia reconstrutora. Certamente, a longo prazo, o próprio mercado se encarregará de corrigir essa discrepância atual.”

Dr. Gustavo: “Não vejo necessidade de mudar a nossa vocação, mas acredito que isso não impeça que também desenvolvamos o mercado das cirurgias de necessidade (as reparadoras). Um mercado não exclui o outro. Acredito que o desenvolvimento do Brasil, com aumento da preocupação com a qualidade de vida e maior percepção das diversas necessidades que surgem e devem ser  atendidas, aliado a uma melhora da gestão tanto da saúde pública como da complementar, farão com que os planejadores de saúde passem a se preocupar mais com o mercado que tem sido pouco explorado por  aqui.”

Dra. Tatiana: “Acredito que esta proporção seja difícil de mensurar em uma média, pois, em números totais de cirurgias, as reparadoras devem ser a maioria, já que são também realizadas pelo SUS. O número de pacientes que necessitam de intervenção para uma cirurgia reparadora é infinitamente maior, porém a maioria será atendida pelo SUS ou sistema de saúde complementar. Se formos relacionar o volume de remuneração para equipe médica, a estética contribui com um valor maior para a maioria dos cirurgiões, salvo raras exceções de especialistas que mantêm volume considerável de cirurgias reparadoras particulares. Por conta da baixa remuneração dos convênios e da alta complexidade das cirurgias reparadoras, muitos cirurgiões optam por não trabalhar com a reparadora ou dedicam pouco tempo a isso, o que causa uma demanda muito reprimida para essa área.”

Dr. André Cervantes

Dr. Gustavo Stocchero

Dr. Júlio Morais Besteiro

Dra. Tatiana Moura

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