Principal desafio dos bancos atualmente são os baixos Estoques devido as poucas doações de pele. Uso da membrana amniótica é alternativa à pele de cadáver, mas esbarra na falta de regulamentação sobre seu uso no brasil

Por Caio Patriani 

Há 24 anos, o Brasil regulamentava o transplante de órgãos e tecidos humanos. Mas foi apenas em 2009 que o Ministério da Saúde começou a estabelecer normas específicas para o funcionamento dos Bancos de Pele. Hoje o Brasil possui quatro bancos de tecidos que atuam na captação, processamento, armazena mento e distribuição de pele de cadáver humano para transplantes. O material é utilizado principalmente no tratamento de queimaduras mais graves, mas pode ser utilizado em casos menos complexos ou outros tipos de feridas quando necessário e disponível.

O Banco de Peles da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é o mais antigo do Brasil. Fundado em 2005, é dirigido pelo Dr. Eduardo Mainieri Chem. O segundo mais antigo é o Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas (HC), na capital paulista, coordenado pelo cirurgião plástico André Paggiaro. Outros dois estados que possuem um Banco de Tecidos: Rio de Janeiro (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad) e Curitiba (Hospital Universitário Evangélico Mackenzie), que são coordenados, respectivamente, pelos Dr. Luís Calomeno e Dr. Victor Lima.

“Os quatro bancos de pele que atendem o Brasil hoje são regulamentados pelo Sistema Nacional de Transplante (SNT) e eles atuam sob demanda de ser viços habilitados para fazer transplante. Esses serviços solicitam o material e se verifica qual banco tem a disponibilidade para atender”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Dr. José Adorno. Ele esclarece que, embora todos os bancos ativos se situem na Região Sul e Sudeste, todos possuem alcance nacional. A cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, também deve ter um banco de pele no futuro próximo. Coordenado pelo Dr. Pedro Coltro, o banco de pele está vinculado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e já possui estrutura física preparada e aguarda credenciamento junto ao SNT. Além dele, caminha o processo para a abertura de um banco de peles em Salvador, Bahia, sob a tutela do Dr. Marcus Barroso. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada cidade com mais de 500 mil habitantes precisaria ter um banco de pele. Hoje os quatro bancos de pele juntos não suprem 1% da necessidade de pele do país.

DESAFIOS NA CAPTAÇÃO E COMBATE AO PRECONCEITO

Os diretores dos Bancos de Pele entrevistados acima ressaltam que o principal desafio dos bancos hoje é o baixo estoque devido às poucas doações de pele, especialmente em 2020, com o impacto da pandemia da Covid-19. No Banco de Pele da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, foram apenas 24 doadores de pele. No mesmo período de 2019, o número chegou a quase 50 doadores. Em 2019, o Banco de Tecidos do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie teve 10 doadores, enquanto que, em 2020, esse número caiu para cinco.

“Os estoques sempre foram pequenos, mas pioraram com a pandemia, e todos os transplantes de órgãos no Brasil diminuíram. Então, não conseguimos atender a demanda nacional por pele”, explica o Dr. Eduardo Chem. Ele ressalta que, a cada cinco ou seis doadores de múltiplos órgãos, em apenas um dos casos a família autoriza a doação também da pele. Há duas razões que explicam essa baixa aceitação de doação de peles: o preconceito e a falta de informação. “Os familiares de doadores costumam aceitar doar o coração, pulmão ou fígado, entre outros órgãos, mas, quando se fala da pele, existe resistência. A pele é retirada de locais que jamais ficariam visíveis no velório. Não tem mutilação ou deformação alguma do cadáver e precisamos desmistificar isso”, reforça o Dr. Pedro Coltro.

Todos os anos, campanhas de informação são realizadas para informar corretamente a população sobre a importância de doar pele, os impactos para o doador e os benefícios que são levados para as pessoas que recebem as doações. “Doar pele salva vidas. É um ato muito bonito que a família pode fazer. A doação não descaracteriza em nada o corpo do doador e pode salvar a vida de um ou dois pacientes com queimaduras graves”, esclarece o Dr. Victor Lima.

Outro problema que limita a captação de pele, especificamente em 2020 devido à pandemia da Covid-19, foi o desconhecimento sobre os potenciais efeitos da doença sobre o material doado e os recipientes das doações. “Tivemos um período de 2020 em que não sabíamos se o transplante poderia ou não transmitir a Covid-19 ou quais os cuidados diferenciados tínhamos que ter com o doador para garantir a segurança do processo”, recorda o Dr. André Paggiaro. “Uma das maneiras de aumentarmos a captação de pele alógena é aumentar a rede de captadores, formando captadores de outras especialidades para atuarem em outras regiões onde não há bancos de tecidos, mas ocorrem doações de múltiplos órgãos”, sugere o Dr. Luís Calomeno.

Leia a matéria completa na edição 226 de Plastiko’s

                Detalhes do Banco de Pele do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad, no Rio de Janeiro

                Imagens do Banco de Pele do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, em Curitiba (PR)

Dr. Eduardo Chem com equipe do Banco
de Pele da Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre

Detalhe do Banco de Pele da
Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegr
e

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