Em 27 de outubro, com grande expectativa de toda a equipe de mais de 40 médicos, foi realizada a quinta e última cirurgia, que contou com a vinda dos norte-americanos James Goodrich e o cirurgião plástico craniofacial de sua equipe, Oren Tepper, do Hospital Infantil de Montefiore, de Nova Iorque. Desta vez, a cirurgia que já era complexa, trouxe novos desafios, como explica o Dr. Farina: “reabrimos a parte da incisão, a neurocirurgia ressecou uma grande quantidade de osso e nos entregou. Tínhamos uma sala paralela onde nós, cirurgiões plásticos, trabalhávamos concomitantemente. Contamos com a participação do Dr. Oren Tepper, que nos deu uma ajuda muito grande. Enquanto a neurocirurgia desligava os vasos sanguíneos restantes, que era, vamos dizer assim, o último quarto de vasos sanguíneos, os últimos 25% que ainda estavam ligados, nós na sala ao lado, fazíamos a separação dos ossos que eles vinham nos entregando”.
Os ossos eram divididos para que de um osso virassem dois com a mesma superfície. “Um osso era dividido como se pegasse uma placa e a dividisse no meio no sentido de que duas placas ficassem com a mesma superfície: mais fina, mas com a mesma superfície. Para que? Para que o osso fosse para cada criança no final e fechasse o topo do crânio das meninas”, relembra o especialista. Foram mais de seis horas dividindo os ossos, enquanto elas iam sendo operadas na outra sala. “Depois essas meninas foram viradas, na última etapa, nós entramos novamente, fizemos a abertura do que restava dos retalhos de pele e recebemos o restante de todo osso e, novamente nós fomos para a sala ao lado fazer essas divisões dos ossos e já começamos também a unir esses ossos. Estávamos em uma sala vazia onde vários cirurgiões plásticos, com a ajuda de alguns colegas, também da neurocirurgia, se eu não me engano, residentes da neurocirurgia, nos ajudaram a fazer a fusão dos ossos. E nós fazíamos isso com placas absorvíveis de osteossíntese”, relembra o Dr. Farina.
O médico descreve que eles montaram uma espécie de abóbada, um mosaico de ossos. Depois de realizada essa montagem óssea, eles ficaram esperando a separação final das cabeças, ocorrida às 21h10 do sábado 27 de outubro. “O que aconteceu então? As meninas foram separadas. Elas estavam em duas mesas cirúrgicas: uma acoplada a outra. Após a separação, uma mesa foi para um lado da sala e a outra mesa foi para. Após os neurocirurgiões fecharam as meninges de cada menina (uma membrana que cobre o cérebro), nós trouxemos da sala ao lado aquelas abóbadas cranianas que nós tínhamos pré-moldado, tampamos o topo das cabeças das meninas, utilizando uma cola de fibrina”. A cola de fibrina é um selante natural feito do plasma, componente sanguíneo e que não oferece contraindicação.
Depois de fechar o topo das cabeças das irmãs com os ossos, foram colocados os retalhos de pele, finalizando a cirurgia. No total, foram 21 horas de cirurgia. “Elas estão agora se recuperando na terapia intensiva, têm evoluído bem, recuperando a motricidade a cada dia. Claro, que tem pequenos procedimentos que ainda faltam ser realizados, ainda falta, por exemplo, fazer uma enxertia de pele na região da nuca da Ysabelle. A Ysadora teve pele suficiente para fechar tudo”, comemora o Dr. Farina.
Ao ser questionado sobre a satisfação de participar deste tipo de cirurgia, com resultados positivos, ele analisa que essa é a essência da cirurgia plástica: salvar vidas. “Neste caso, se não tivesse havido a intervenção conjunta da cirurgia plástica com a neurocirurgia, não teria como ter fechado a ferida complexa que era a exposição do cérebro das duas meninas. Elas não teriam como sobreviver. Poderia ter havido a separação, mas, sem o fechamento da ferida complexa, não teria havido sobrevida”.
Dr. Jayme Farina, que é Professor Doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP, Chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do HCFMRP-USP, Diretor da Unidade de Queimados do HCFMRP-USP e Coordenador do Setor de Microcirurgia Reconstrutiva da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da FMRP-USP, ressalta esse papel da cirurgia plástica salvadora de vidas, também. “Geralmente a mídia aborda a cirurgia plástica somente no lado da estética. Agora, no serviço universitário, a gente vive uma outra realidade. A gente vive uma realidade da cirurgia plástica salvadora de vidas, aquela que salva amputações, aquela cirurgia que reconstitui anomalias congênitas, faz reparações, além de cirurgia estética, que, no nosso caso, também fazemos cirurgia estética para ensinar aos residentes”, enfatiza o professor. “As cirurgias dos queimados, por exemplo, é uma cirurgia que a [cirurgia] plástica faz para para reparar tecidos específicos, e, com isso, salvar vidas”, conclui.